Segundo
o pessimista e abúlico Fernando Pessoa, viajar é
perder países.
Viajei,
acredito, de modo diferente. Dei um pulo às Alterosas
e conquistei várias paisagens. Fiz mais, tomei um banho
de civilização, porque, encravado neste oco
de mundo, que é Ipámeri, deslizei pela
gostosura do asfalto, a partir de bem à beira do Paranaíba
até a Capital Mineira.
Como
o carro tomava outro fôlego e a gente como não
se refastelava ao sabor da macieza e quase paz
celeste do tapete negro do caminho! Araguari, Uberlândia,
Uberaba suplantadas, enquanto se apreciava a segurança
da sinalização, dos trevos, retornos e pistas
duplas; à medida que se aproximava de Araxá
das sulfurosas e de Da. Beja. Uma parada descongestionante
e viver o burburinho dos turistas ávidos
de luz, sossego e reconstituição.
Percorrer os mesmos caminhos, beber a mesma
água, apreciar a suntuosidade do Hotel
do Barreiro. visitar o velho Colombo e
assentar naquele banco das bodas de treze anos
atrás. Tudo e nós marcados
pelo tempo, não é companheira?
Depois
voar para Belo Horizonte, subir a serra e, das
alturas, ganhar vistas perdidas.
Lá
a vida era outra. Lojas, livros, música, cinema, os
familiares, outra gente, outra mentalidade. Nem mesmo o tráfego
tumultuante fora capaz de envolver o tímido chofer...
Maquiné com estalagtites e estalagmites
encontrando-se, após milhares de anos, às
vistas do viajor. O Aleijadinho presente, em Congonha,
nos profetas e via sacra...
Finalmente a volta tão necessária quanto urgente.
O retorno à calma do interior e ao desencanto
da carência de recursos. O Paranaíba
é a porta do inferno. "Atravessai a ponte e deixai
toda esperança", diria Dante. Já
pensou o impacto da federal em Goiás?
Buracões, buraquinhos, buracos médios, chatos
redondos, compridos, cercados de costelas por todos
os lados. É o princípio do martírio que
terminará, quem sabe, quando acabarem a Treansamazônica.
Este o sofrimento que se arrasta até as barbas de Ipameri,
até mesmo dentro de suas ruas introdutoras.
Na
verdade, quem areja o espírito por essas belezas e
confortos, volta sorumbático, como para a hibernação,
para um como sepultamento.
José
Bernardino da Costa
31/01/71