Foi
há cerca de quarenta anos que eu havia atravessado
pela última vez a ponte sobre o Rio Veríssimo
e cruzado sem parar, como sempre, o
Povoado de mesmo nome, pertencente ao Município
de Goiandira. Naquela época eu ainda não dirigia
e meu pai estava sempre ao volante, não
deixando jamais que uma breve parada para admirar o Rio atrazasse
a nossa longa viagem até o Rio de Janeiro, no que ele
tinha uma certa razão. O Veríssimo
fica a cerca de trinta minutos de
Ipameri.
Desta
forma já conhecia o Veríssimo desde
que me entendo por gente sem, entretanto,
jamais tê-lo visto de perto, caminhado por
suas praias, que só avistava da ponte. Já
o Rio do Braço, que nunca foi
nosso caminho para chegar ou partir
de Ipameri, eu conhecia muito bem, pois muitas
vezes fui passear na Usina, pescar em suas águas
e, até, acampar às margens das pequenas
praias de areia branca que ficam a apenas dez minutos
do centro de Ipameri.
O
motivo de não passarmos mais pelo Veríssimo
é que novas estradas asfaltadas foram
construídas e estas estradas não cruzavam
mais o Povoado que ficou, de uma certa forma, isolado do
tráfego de veículos que antes não
deixava a poeira baixar em suas ruas.
Entretanto, em pequenos vilarejos como o Veríssimo,
é comum ouvirmos pessoas dizendo que o
progresso traz mais desvantagens do que vantagens, que
preferem o sossego de hoje do que o movimento de antes. Não
sei se os comerciantes pensam assim...
Beth
Costa, minha amiga de infância, tem uma casa no
Veríssimo e há algum tempo queria levar-me
até lá, entretanto minhas
idas a Ipameri eram muito breves e nunca conseguimos conciliar os
compromissos com a pequena viagem. Contudo
em setembro de 2004 fui passar um fim de semana prolongado
na cidade e combinamos um passeio até o
rio, eu estava ansioso pois não só iria
finalmente conhecer o Veríssimo, mas também
visitar o aconchegante recanto de minha querida amiga
e irmã.
A
viagem foi muito agradável e pitoresca, uma volta ao
passado na velha estrada de terra, com direito até
a parada para tirar fotos. A Beth é uma pessoa maravilhosa
que contagia a todos com sua alegria de viver. Chegamos ao
Veríssimo e passamos pela antiga
ponte de madeira, que recentemente recebeu uma
pavimentação de cimento. Nesta tarde,
depois de tantos anos, finalmente eu pude conhecer o rio e
caminhar pelo Povoado, sentindo o coração batendo
forte no peito por realizar um sonho de criança.
O
recanto da Beth é um encanto, passamos
bons momentos de descontração em
companhia de seu sobrinho Daniel e de sua namorada Juliana,
que nos acompanharam neste passeio inesquecível. Visitamos
a bela residência do sr. Jacir da Paixão, onde
vimos o que restou da antiga ponte ferroviária por
onde passamos tantas vezes.
Por
todos os lugares em que andamos ao olharmos
para as margens do rio víamos pessoas em
suas praias e pedras. Algumas pescavam,
outras tomavam sol, relaxavam. Um
paraíso em que qualquer pessoa sonharia
morar, onde só eram ouvidos
os cantos do rio e dos pássaros.
Para
terminar fizemos um passeio de carro pelo Veríssimo, que
pareceu-me ter parado no tempo mas onde a paz e
o sossego imperam absolutos. Em minha memória
vieram imagens envelhecidas de um menino
e sua família, que não podiam parar
para ver o rio, imagens resgatadas
há quase meio século atrás.
O menino agora estava feliz, passara uma tarde
em meio à exuberante natureza do Veríssimo,
cercado de bons amigos no recanto da Beth.
Heleno Costa
(Pseudônimo de Lupércio Mundim)