A
incoerência é quase sempre uma constante
no comportamento humano como um mecanismo que denota
ainda o estágio de maturidade do homem enquanto vive
as inúmeras experiências da
vida, sem no entanto ter, ou melhor, fazer tempo para
avaliar-lhe o conteúdo e o significado.
Todos sem exceção, construímos uma auto-imagem
para oferecer ao outro e ao público e uma
outra imagem para nós mesmos que vivemos na intimidade
dos nossos pensamentos e atos menos ostensivos.
Esta dicotomia faz com que o homem se confunda a si mesmo
e por isso quase sempre um buscador da sua própria identidade
em todos os lugares exteriores de si mesmo.
O discurso do ser humano também é muito parecido
um com o do outro e por vezes chegamos
até nos perguntar "quem não é
bom", ou seja, quem é o vilão da história,
pois todas as pessoas expressam
um mesmo texto de discernimento entre o bem e o mal, entre a
ética e a sua ausência e todos falam em consenso,
solidariedade e paz.
Há um momento em nossas vidas em que o vilão da
história é descoberto: somos nós
mesmos. Percebemos o que falta: é
a nossa contribuição, o que excede
é o nosso egoísmo, e o desamor, antes
de ser do outro em relação a nós, é
primeiro de nós em relação
ao outro.
Nesse processo a famosa frase de Sócrates, conforme
alguns autores e inscrita no Templo de Delphos e adotada por
ele na sua filosofia, segundo outros, o que não
muda a inteireza e a sabedoria do
pensamento: "Conhece-te a ti mesmo", é a grande
chave que deve ser corajosamente utilizada por todos na
direção do encontro com a própria identidade
para uma vida mais autêntica, mais coerente
e portanto mais feliz.
Como fazer isso - conhecer a nós mesmos - é talvez
no momento a grande pergunta que nos
surge. E a resposta encontramos
no grande filósofo, Santo Agostinho que para se
conhecer, se propor novas atitudes e ser coerente
entre sua teoria e prática de vida, fazia seus exercícios
de "exame de consciência" no final de
cada dia, para perguntar-se sobre o que havia feito,
como havia feito, se deveria ou não ter feito, se havia
uma forma melhor de fazer - ou
o que deveria ter evitado e com as suas respostas
pessoais, honestas, emergidas de uma
consciência verdadeiramente interessada em
acertar, crescer e renovar, propunha-se novas e melhores
experiências de pensamentos, sentimentos e atos
para o dia seguinte.
O grande problema do homem na atualidade é
então descobrir-se nesse momento como o único
capaz de sua auto-promoção: aquela que ninguém
outorga a ninguém. E o que compete
a cada um é compreender a importância
de se dar um tempo para esse "exame de consciência"
no sentido de que realmente mudanças e transformações
na direção da paz e da felicidade possam acontecer.
O reconhecimento da auto-importância do Ser e do significado
maior de uma existência são os elementos
que podem auxiliar a uma tomada
de atitude que para ser eficaz terá que vir sempre de
dentro para fora.
Caso contrário, o homem continuará triste e
cabisbaixo retratando uma identidade feita de etiquetas
e griffes, de enlatados e de um
discurso cujo texto não pertencendo à sua realidade
interior, o deixará prosseguir vazio, insatisfeito
e conseqüentemente infeliz.
Neste ano que aos poucos chega ao seu crepúsculo, a Luz
do Mundo prenuncia sempre e outra vez as Boas
Novas: a lembrança do nascimento
de Jesus na comemoração do Natal: que este ano
possamos sob os auspícios dessa lembrança
renascer de nos e em nos mesmos para uma Vida conforme
temos sonhado e esperado a vida inteira - Paz, Saúde
e Felicidade são colheitas de uma semeadura
de uma vida autentica na direção dos valores morais
e espirituais.
Beth Costa
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